O desenvolvimento acelerado da técnica e da ciência, principalmente nos dois últimos séculos, criou o mito do progresso. Segundo essa crença, tudo tende para o aperfeiçoamento, mediante a atualização de potencialidades que se encontram em estado latente, embrionário, bastando serem desencadeadas pela tecnologia decorrente do saber científico.
No entanto, vivemos hoje a crise dos valores. O ideal do progresso inexorável é desmistificado quando constatamos que o desenvolvimento da ciência e da técnica sempre vem acompanhado pelo progresso moral.
Nesse sentido, é possível entender essa estranha situação: embora nunca tenhamos adquirido tanto saber nem tanto poder, também é verdade que o acréscimo de saber e de poder não tem sido acompanhado de sabedoria. Sabemos o que fazer e como fazer, mas perdemos de vista o para quê fazer.
Fazemos essa triste constatação quando nos defrontamos com uma sociedade altamente desenvolvida do ponto de vista tecnológico, mas que pouco ou quase nada se preocupa com as questões de convívio humano.
Ter olhos para o humano é perceber o desequilíbrio produzido pela má distribuição da riqueza e a conseqüente generalização da miséria, a violências das guerras com seus armamentos cada vez mais precisos, os níveis insuportáveis de competição na sociedade individualista, o consumo desenfreado criando necessidades artificiais, as desordens morais da sociedade centrada nos valores de posse.
No entanto, a grande maioria das pessoas está mais preocupada com o seu cotidiano individual, com os problemas práticos de alcance imediato. Encontra-se aí uma das inúmeras contradições da sociedade pós-industrial: apesar da saturação de informações, por serem essas tão rápidas e fragmentadas, nem sempre permitem a sua reorganização de forma crítica.
Presenciamos um período de crise: a razão, que deveria servir para vincular o homem ao real a fim de compreendê-lo, para escolher o que é melhor para a sua vida, essa razão se acha completamente “enlouquecida”. O problema não está, portanto, no desejo de progresso, mas sim no fato de que os meios são perversamente transformados em fins.
A atual geração do imediato, do pragmático, do competitivo, do apenas emotivo, é somente um lamentável lapso histórico de desobediência, de perda, de des-humanidade (e de des-Graça).
Resistir é preciso, criar é preciso, escrever é preciso. O Espírito sopra e nos cura, e nos reconstrói pela capacidade de abertura, pelo diálogo de corações, pela coragem do dizer.
Antes de construir, tem-se que derribar - já dizia Salomão!
Há tempo para todo propósito debaixo do sol! Eclesiastes 3:1-8 - onde aprendemos a “dialética da construção e da desconstrução” como dinâmicas necessárias e sadias neste mundo de vaidades que nos colocam, a todos, correndo atrás do vento; ou tentando prender o vento.
Todos nós somos apenas e sobretudo seres inacabados...
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